A Reforma Tributária brasileira deixou a fase de debates teóricos e adentrou o terreno prático e urgente das empresas. Enquanto as atenções se voltam naturalmente para os desafios operacionais da implementação do IBS e da CBS – como adaptações de sistemas (ERP), revisão de processos e cumprimento de prazos de transição –, existe uma oportunidade crítica, e ainda pouco discutida, que demanda ação imediata dos gestores: o aproveitamento estratégico das regras tributárias vigentes antes que desapareçam.
Este período de transição, antes da plena vigência do novo sistema, não é apenas um tempo para se preparar para o futuro; é uma janela única para otimizar o presente e mitigar riscos futuros, especialmente no que diz respeito a créditos e incentivos fiscais.
Oportunidade 1: A Corrida Contra o Relógio dos Créditos Tributários
Sob o regime atual, as empresas acumulam diversos tipos de créditos tributários que podem ser essenciais para melhorar a liquidez e reduzir custos no curto prazo. Com a reforma, muitos desses créditos poderão ter sua utilização restrita, perder o valor ou exigir regras complexas de transição ainda não totalmente definidas.
Ações Estratégicas Prioritárias:
- Aceleração de Compensações:
- IPI: Identificar e realizar compensações de créditos de IPI pendentes. Este é um tributo federal que será extinto, e o destino de seus créditos acumulados precisa de atenção redobrada.
- IRPJ com Base Negativa: Empresas que possuem prejuízos fiscais acumulados (base de cálculo negativa do IRPJ) devem avaliar agressivamente a possibilidade de compensá-los contra o lucro tributável atual, antes de eventuais mudanças nas regras de utilização.
- Contribuições Previdenciárias: Compensar créditos de contribuições sociais (PIS/PASEP, COFINS) gerados no regime atual, cujas regras de aproveitamento no novo sistema (CBS) são incertas.
- Compensações Cruzadas: Explorar ao máximo a possibilidade legal de realizar compensações cruzadas entre diferentes tributos federais (ex: créditos de PIS/Cofins compensando débitos de IRPJ/CSLL, dentro dos limites legais).
- Revisão Minuciosa das Contas: Realizar uma auditoria fiscal interna ou com apoio especializado para identificar todos os créditos tributários existentes (federais, estaduais e municipais) que possam ser objeto de compensação ou restituição antes da transição.
Oportunidade 2: O Último Suspiro dos Incentivos Fiscais do ICMS
O ICMS, como conhecemos hoje, será extinto e absorvido pelo IBS. Consequentemente, os inúmeros benefícios fiscais, convênios e incentivos estaduais e interestaduais ligados ao ICMS tendem a perder sua validade ou sofrer profundas alterações no novo regime. Muitos desses incentivos foram cruciais para a competitividade de empresas em determinados setores ou regiões.
Ações Estratégicas Prioritárias:
- Mapeamento Crítico: Identificar todos os incentivos fiscais de ICMS dos quais a empresa se beneficia atualmente (isenções, reduções de base de cálculo, diferimentos, créditos presumidos, convênios como CONFAZ 115/03 para logística, etc.).
- Análise de Vigência e Impacto: Avaliar a data de expiração natural de cada benefício e, principalmente, projetar como a Reforma Tributária impactará sua continuidade. Consultar as autoridades fiscais estaduais e especialistas é fundamental.
- Aproveitamento Máximo: Planejar operações para usufruir ao máximo dos benefícios ainda vigentes antes que expirem ou sejam revogados pela transição. Isso pode envolver antecipação de compras, otimização de cadeias de suprimentos ou revisão de modelos operacionais que dependem do benefício.
- Reavaliação de Investimentos: Projetos de investimento baseados em incentivos de ICMS devem ser reavaliados quanto à sua viabilidade no cenário pós-reforma. O custo-benefício pode mudar radicalmente.
Oportunidade 3: Preparação Proativa para a Transição
Além de aproveitar as regras atuais, este momento é crucial para estabelecer as bases de uma transição suave:
- Diagnóstico Fiscal Completo: Realizar um levantamento detalhado de todas as operações, fluxos, tributos incidentes e obrigações acessórias atuais. Esse será o ponto de partida para mapear os impactos da reforma.
- Simulações Financeiras: Projetar cenários do impacto da nova carga tributária (IBS/CBS) nas operações da empresa, considerando a perda de incentivos e a ampliação da base tributária.
- Revisão de Contratos: Analisar cláusulas tributárias em contratos com clientes, fornecedores e parceiros. Quem assume o ônus do IBS/CBS? Como ficam preços acordados que consideravam benefícios extintos?
- Planejamento de Fluxo de Caixa: A transição pode trazer custos significativos (adaptação de sistemas, consultorias) e alterações no momento de recolhimento dos tributos. Planejar o fluxo de caixa é essencial.
Conclusão: A Hora da Decisão Fiscal é Agora
A Reforma Tributária não é um evento futuro distante; seus efeitos estratégicos já estão em curso. O período que antecede a implementação do IBS e da CBS representa um momento decisivo e irrepetível para a gestão fiscal das empresas.
Priorizar ações para:
- Resgatar e Compensar Créditos: Liberar recursos financeiros presos e reduzir passivos tributários imediatos.
- Maximizar Incentivos do ICMS: Aproveitar as últimas oportunidades de ganhos de competitividade sob as regras atuais antes que desapareçam.
- Estruturar a Transição: Minimizar os custos operacionais e os riscos de descontinuidade.
Ignorar esta janela estratégica é abrir mão de oportunidades significativas de otimização e expor a empresa a potenciais prejuízos e complexidades adicionais no futuro próximo. A tomada de decisão informada, ágil e apoiada por especialistas fiscais não é mais uma opção; é uma necessidade imperativa para a saúde financeira e a competitividade sustentável no novo cenário tributário brasileiro.